quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Arma contra a poluição Mamona, girassol e lixo neutralizam dano de vazamento de óleo

02/08/2008
Maria Luiza Barros
Rio - Um sistema pioneiro de descontaminação de solos a partir de plantas e microorganismos que se alimentam de petróleo e seus derivados promete ser a mais nova arma no combate à poluição provocada por derramamento de óleos combustíveis. A pesquisa vem sendo desenvolvida, desde 2004, por professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em convênio com três universidades da Suécia. O método de recuperação utiliza mamonas, girassóis e até lixo orgânico.
O coordenador da pesquisa, Sérgio Machado Corrêa, doutor em Química e professor da Faculdade de Tecnologia da Uerj, no campus de Resende, na região Sul Fluminense, explica que três meses após a aplicação da técnica em solos contaminados mais de 90% da poluição foi absorvida pelas plantas e microorganismos. “Os danos poderão ser solucionados de forma mais rápida e com maior eficácia”, diz.
O processo conhecido como fitorremediação e a biorremediação — despoluição por meio de plantas e microorganismos, como bactérias e fungos — é uma alternativa natural e 40% mais barata que os compostos industrializados usados pelo mercado que custam em torno de 440 dólares. “As plantas e microorganismos se alimentam do carbono presente no combustível para poder sobreviver e crescer”, explica o pesquisador.
O método natural é 40% mais barato
O alvo do estudo são os solos degradados por vazamentos de petróleo, borra oleosa, diesel e óleos lubrificantes nas estradas fluminenses. Os pesquisadores esperam que a tecnologia inédita no Brasil possa ser utilizada por órgãos ambientais, como a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) na recuperação de áreas degradadas, como o próprio solo no entorno da Baía de Guanabara. Há décadas a região sofre com vazamentos de óleo das indústrias instaladas na região e das centenas de embarcações que lavam seus motores em plenas águas da Baía de Guanabara.
“Nesse processo, os microorganismos e as raízes de plantas como girassol e mamonas fazem a degradação do óleo derramado no solo. Desta forma, despoluem a terra. Algumas plantas também são capazes de extrair e imobilizar metais pesados que contaminam os solos”, explica Sérgio.
USO DE ESPÉCIES COMESTÍVEIS DESCARTADO
Várias espécies vegetais mostraram potencial para remediação dos solos. Porém, o químico Sérgio Corrêa ressaltou os cuidados que devem ser tomados quando espécies comestíveis são utilizadas. O grupo chegou a usar soja nas pesquisas, mas preferiu manter apenas as espécies não comestíveis como a mamona e o girassol. Segundo o pesquisador, os testes mostraram o excelente potencial das duas espécies, que, além de úteis na espoluição, servem para a produção de biodiesel.
Ele acrescenta ainda que a utilização dessas plantas enfraquece a crítica de que a produção de biocombustíveis reduz áreas agrícolas que seriam utilizadas para o cultivo de alimentos. “Nossa pesquisa faz essa tese cair por terra. A mamona e o girassol são capazes de germinar em áreas contaminadas – ou seja, impróprias para a produção de alimentos”, explica Corrêa. Na área da biorremediação, um novo experimento ficará pronto até o fim do ano.

Fonte: http://odia.terra.com.br/rio/htm/arma_contra_a_poluicao_189736.asp