quinta-feira, 21 de agosto de 2008

ONG transforma em arte madeira que iria para o lixo

15/8/2008
Paula KingProduzir objetos de luxo a partir de madeiras nobres, mas com um detalhe: toda a matéria-prima é recolhida nas ruas da Grande São Paulo e Baixada Santista. Este trabalho é realizado pelo Projeto Catapau, que assiste ex-dependentes químicos na confecção de peças de arte a partir da utilização de técnicas de marcenaria.
O Catapau nasceu no ano 1991, na cidade de São Paulo, a partir da Associação Pau Pau Criança e Cidadania, uma organização não-governamental que atendia crianças de baixa renda dos bairros da Vila Beatriz e Vila Madalena e produzia trabalhos com madeira usada.
Hoje, 17 anos depois, o projeto tem duas oficinas regulares na cidade de Santo André. Elas atendem ex-dependentes químicos e pacientes psiquiátricos encaminhados pelo Serviço de Saúde Mental da Prefeitura local e os alunos da Escola Municipal 30 de Julho.
O projeto atua em quatro frentes. A primeira é a ecológica, que engloba o recolhimento das peças até a sua transformação e venda; a segunda é a arte que é utilizada na transformação dessas madeiras em objetos criativos; a terceira é a social, em parceria com a Prefeitura de Santo André, a ONG auxilia dependentes químicos no aprendizado da construção destas peças; e a quarta frente é a oportunidade de geração de renda para os aprendizes.
“A arte traz conhecimento e tem uma grande importância na promoção da auto-estima do ser humano, além de mostrar caminhos que se opõem ao das drogas”, diz o marceneiro, fundador e coordenador do projeto, Pedro Batista Ranciaro, que desde o início da década de 1990 atua com dependentes químicos.
“Os dependentes químicos que nos procuram vêm para aprender uma arte e para aproveitar o tempo ocioso”, diz Ranciaro. Para ele, um dos motivos que levam estas pessoas a se afastarem do mundo das drogas, ou passarem a consumir com moderação, “é a interação delas com o cuidado com a natureza propiciada pelas oficinas”.
Segundo o marceneiro, as oficinas não apenas ensinam um oficio às pessoas, como também trabalha para a diminuição do impacto ambiental nas grandes cidades. Além disso, para Ranciaro, a construção dessas peças ajuda no resgate da auto-estima destes aprendizes.
De acordo com o Núcleo Gestor de Entulho do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) no último mês de julho, foram removidos somente dos Ecopontos 387,50 m³ de recicláveis, 1.909,70 m³ de entulho e 2.759,78 m³ de volumoso. Desse total, pode-se considerar que 50% seja madeira.
O pedaço de madeira abandonado na rua pode ser uma peça preciosa, como uma tora de Jacarandá da Bahia ou de Pau Marfim, Caviúna, Cedro, entre muitas outras. “Algumas dessas árvores poderão em breve não existir mais”, aponta Ranciaro.
Fonte: Envolverde / Aprendiz.